A realidade do TER e a realidade do SER (Nov 2012)

A ilusão do TER e a realidade do SER

Como lidar com a Perda e o Luto?
Ao sair do hospital onde trabalhava, senti necessidade de ir até à falésia da praia da rocha em Portimão e observar apenas o mar. Sentia que algo se estava a passar…e subitamente ao respirar…senti como se uma pequena nuvem transparente, apenas energia…se aproximasse do meu peito e entrasse lentamente em mim…fazendo parte de todo o meu corpo. As lágrimas corriam…o amor que sentia era profundo e inteiro…pois percebi que nunca tinha sentido algo tão inteiro e completo, nunca tinha sentido uma proximidade tão grande…a sensação infinita de fazer parte! Uns minutos depois a minha mãe liga a confirmar-me o que sentia – a minha avó havia partido deste mundo e eu pela primeira vez senti a sua presença por inteiro em mim…como nunca a havia sentido antes!

A clareza e a ilusão da palavra
Escrevemos, falamos, usamos as palavras na maior parte das vezes esquecendo-nos que estas são apenas a ponte para a consciência da essência que desejamos manifestar. Da mesma forma que a palavra nos ajuda a compreender o que somos, também nos pode induzir subtilmente a uma ‘realidade irreal’, o que tem acontecido ao longo da nossa existência terrena desde que alguém se lembrou de começar a usar a palavra. Falamos em perda, em sofrimento, em dores físicas, cansaço, nervosismo, stress, frustrações, como resultado de algo, ou estados emocionais passiveis de serem analisados e trabalhados, do ponto de vista terapêutico e holístico, esquecendo-nos que são apenas o que elas em si representam – palavras – que quando distraídos de todo o mecanismo EU SOU nos afastam da verdadeira essência que desejamos identificar.

Ligação e consciência
Quando vivi a experiência com a partida da minha avó, percebi que o mais importante é o que habita em mim na consciência da ligação associada à pessoa ou situação. A minha avó estava numa cama do hospital em Évora e eu estava no Algarve, nunca em toda a minha vivência com ela enquanto viva a senti tão perto e parte de mim. Era como se de repente ela se encontrasse totalmente livre para se fazer sentir em si mesma e em todas as coisas, especialmente naqueles que apelavam à sua presença. Se observarmos a vida nesta perspetiva, em que tudo começa e termina em nós, em que somos nós próprios os criadores de todo o universo pessoal que é único e eterno, conseguimos perceber a forma como podemos lidar facilmente com todas as situações que nos ensinaram a ver e a identificar como sofrimento, perda, frustrações. Até que ponto, alguma vez na vida, tivemos algo ou alguém em nosso poder?! Quem sente verdadeiramente a dor da perda - a alma ou o ego?

Eu Sou … Tu És…Nós Somos
Os teus olhos…o teu toque…o teu sentir…o teu processar interno…é apenas em ti…É em ti e em cada um de nós da mesma forma! A mesma força que empregas na tua atitude diária na ligação a tudo o que te rodeia, é a mesma força que empregas para te lembrares da responsabilidade que tens em criares isso mesmo. Na verdade, ao perceberes que a verdade é apenas tua…aceitarás e amarás todas as diferenças, como parte de todo o teu processo criador interno e real. És tudo o que vês…porque tudo o que vês entra em ti e fará parte das tuas células e de todo o teu corpo. És tudo o que sentes…porque ao sentir o mesmo acontece com as tuas emoções… és tudo o que manifestas, amas, rejeitas, sofres, lutas, acusas, aceitas… és simplesmente…como eu sou…como todos somos!

A realidade da vida
Habituados a uma realidade limitada e condicionada pela vontade egóica e pelo instinto natural de sobrevivência, crescemos e evoluímos acreditando que a maior segurança existia no ter, no possuir, no exterior… Mas não poderia ter sido de outra forma, caso contrário não chegaríamos a esta realidade atual que atravessamos neste momento de plena transformação e consciência – SER APENAS! Quando conseguirmos aplicar diariamente a consciência que tudo ‘É’ apenas em nós e que a única coisa que se pretende é ser em consciência disso mesmo, sem controlar, sem lutar, sem limitações, em total liberdade e amor incondicional, conseguiremos espreitar a luz que nos ajudará a lidar em paz com TUDO. Aí perceberemos que a perda e o luto são apenas ‘lembretes’ da consciência relacionados com a forma imperfeita como utilizámos aquilo a que chamámos tempo, na ligação a isso mesmo. Porque se vivermos intensamente, fiéis a nós mesmos, transparentes, livres, em amor e paz, em TODOS os momentos da vida, tudo ficará preenchido e jamais existirá lugar para a saudade ou dor! Se é possível? Sim é possível…eu já o faço desde os 33 anos! Como? Aplicando tudo o que sei e sendo apenas fiel a mim mesmo, diariamente na consciência que cada momento é mais um renascer. Se eu o faço, se outros o fazem, se Jesus, Buda e tantos outros mestres o alcançaram, tente saber o que existe de semelhante entre todos!

Joaquim Caeiro
Professor de Meditação & Psicoterapeuta da Alma
Ao serviço da Paz e do Amor

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