A ilusão do TER e a realidade do SER
Como lidar com a Perda e o Luto?
Ao sair do hospital onde trabalhava, senti
necessidade de ir até à falésia da praia da rocha em Portimão e observar apenas
o mar. Sentia que algo se estava a passar…e subitamente ao respirar…senti como
se uma pequena nuvem transparente, apenas energia…se aproximasse do meu peito e
entrasse lentamente em mim…fazendo parte de todo o meu corpo. As lágrimas
corriam…o amor que sentia era profundo e inteiro…pois percebi que nunca tinha
sentido algo tão inteiro e completo, nunca tinha sentido uma proximidade tão grande…a
sensação infinita de fazer parte! Uns minutos depois a minha mãe liga a
confirmar-me o que sentia – a minha avó havia partido deste mundo e eu pela
primeira vez senti a sua presença por inteiro em mim…como nunca a havia sentido
antes!
A clareza e a ilusão da palavra
Escrevemos, falamos, usamos as palavras na
maior parte das vezes esquecendo-nos que estas são apenas a ponte para a
consciência da essência que desejamos manifestar. Da mesma forma que a palavra
nos ajuda a compreender o que somos, também nos pode induzir subtilmente a uma
‘realidade irreal’, o que tem acontecido ao longo da nossa existência terrena
desde que alguém se lembrou de começar a usar a palavra. Falamos em perda, em
sofrimento, em dores físicas, cansaço, nervosismo, stress, frustrações, como
resultado de algo, ou estados emocionais passiveis de serem analisados e
trabalhados, do ponto de vista terapêutico e holístico, esquecendo-nos que são
apenas o que elas em si representam – palavras – que quando distraídos de todo
o mecanismo EU SOU nos afastam da verdadeira essência que desejamos
identificar.
Ligação e consciência
Quando vivi a experiência com a partida da
minha avó, percebi que o mais importante é o que habita em mim na consciência
da ligação associada à pessoa ou situação. A minha avó estava numa cama do
hospital em Évora e eu estava no Algarve, nunca em toda a minha vivência com
ela enquanto viva a senti tão perto e parte de mim. Era como se de repente ela
se encontrasse totalmente livre para se fazer sentir em si mesma e em todas as
coisas, especialmente naqueles que apelavam à sua presença. Se observarmos a
vida nesta perspetiva, em que tudo começa e termina em nós, em que somos nós
próprios os criadores de todo o universo pessoal que é único e eterno,
conseguimos perceber a forma como podemos lidar facilmente com todas as
situações que nos ensinaram a ver e a identificar como sofrimento, perda,
frustrações. Até que ponto, alguma vez na vida, tivemos algo ou alguém em nosso
poder?! Quem sente verdadeiramente a dor da perda - a alma ou o ego?
Eu Sou … Tu És…Nós Somos
Os teus olhos…o teu toque…o teu sentir…o teu
processar interno…é apenas em ti…É em ti e em cada um de nós da mesma forma! A
mesma força que empregas na tua atitude diária na ligação a tudo o que te
rodeia, é a mesma força que empregas para te lembrares da responsabilidade que
tens em criares isso mesmo. Na verdade, ao perceberes que a verdade é apenas
tua…aceitarás e amarás todas as diferenças, como parte de todo o teu processo
criador interno e real. És tudo o que vês…porque tudo o que vês entra em ti e
fará parte das tuas células e de todo o teu corpo. És tudo o que sentes…porque
ao sentir o mesmo acontece com as tuas emoções… és tudo o que manifestas, amas,
rejeitas, sofres, lutas, acusas, aceitas… és simplesmente…como eu sou…como
todos somos!
A realidade da vida
Habituados a uma realidade limitada e
condicionada pela vontade egóica e pelo instinto natural de sobrevivência, crescemos
e evoluímos acreditando que a maior segurança existia no ter, no possuir, no exterior…
Mas não poderia ter sido de outra forma, caso contrário não chegaríamos a esta
realidade atual que atravessamos neste momento de plena transformação e
consciência – SER APENAS! Quando conseguirmos aplicar diariamente a consciência
que tudo ‘É’ apenas em nós e que a
única coisa que se pretende é ser em consciência disso mesmo, sem controlar,
sem lutar, sem limitações, em total liberdade e amor incondicional,
conseguiremos espreitar a luz que nos ajudará a lidar em paz com TUDO. Aí
perceberemos que a perda e o luto são apenas ‘lembretes’ da consciência
relacionados com a forma imperfeita como utilizámos aquilo a que chamámos
tempo, na ligação a isso mesmo. Porque se vivermos intensamente, fiéis a nós
mesmos, transparentes, livres, em amor e paz, em TODOS os momentos da vida,
tudo ficará preenchido e jamais existirá lugar para a saudade ou dor! Se é
possível? Sim é possível…eu já o faço desde os 33 anos! Como? Aplicando tudo o
que sei e sendo apenas fiel a mim mesmo, diariamente na consciência que cada momento
é mais um renascer. Se eu o faço, se outros o fazem, se Jesus, Buda e tantos
outros mestres o alcançaram, tente saber o que existe de semelhante entre
todos!
Joaquim Caeiro
Professor de Meditação & Psicoterapeuta da
Alma
Ao serviço da Paz e do Amor
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