Somos humanos.
Somos Vida.
A
vida é muito mais do que a repetição de comportamentos e o ajuste na criação de
condições para uma vida mais ‘segura’ e ideal. A vida é o pulsar em uníssono
com o todo, a experiência em ser inteiro e a possibilidade de nos tornarmos
eternos em consciência.
Descobrimos, inventamos, criamos e
recriamos. Atiramo-nos para o universo longínquo, na tentativa de percebermos
um pouco mais sobre a nossa origem e finalidade aqui, e mesmo assim continuamos
sem coragem para assumir a própria vida, esse pulsar que nos faz acontecer a
cada momento.
Quando olhamos para uma flor ou para uma
árvore, o que vemos é somente – vida – algo que está simplesmente a acontecer…
a expressar o mais belo do pulsar que em si habita. O mesmo acontece quando
contemplamos um lago, um riacho ou a forma de uma montanha – o que observamos é
vida, é o acontecimento mais belo da existência, a naturalidade na sua
expressão original e pura a acontecer simplesmente.
Continuando a observar a vida desta forma,
na ligação à grande mãe terra percebemos que até na sua existência, tudo parece
fluir tendo por base uma adaptação natural e uma flexibilidade que corresponde
naturalmente ao grande ciclo existencial. Podemos perceber nessa mesma
adaptação, um profundo respeito e ‘dança’ equilibrada, entre o que é e vive, o
que já não é e não vive, o que está em vias de ser e de viver e o que está em
vias de deixar de ser, ou em vias de morrer. Tudo parece coexistir e nada
questiona a problemática existencial, nada se ‘preocupa’ com ‘porquês’ ou tenta
arranjar justificação para a sua existência – somente acontece!
Nós humanos, que supostamente deveríamos
pensar e usar a nossa inteligência pura e original na construção de condições
para viver uma vida mais inteira e feliz – como observamos na natureza – gastamos
o tempo a olhar ‘para fora’ e a tentar alcançar o inalcançável. Passamos a vida
a correr atrás de uma resposta, a questionar quem somos e o que estamos aqui a
fazer. Camuflamos a energia original tornando-nos cópias descartáveis e sem
‘sal’. E no fim de tudo, ainda reclamamos e vivemos insatisfeitos…
Como funciona todo este processo que nos
faz seguir o que não é natural? O que acontece dentro de nós que nos faz
acreditar que ‘ser original’ é perigoso ou nos coloca à margem da sociedade?
As
referências parentais e a formação do individuo
Tudo começa no momento em que estabelecemos
ligação com o que vivemos, na fase de bebé. No momento em que associamos
emoções aos acontecimentos e a chamar-lhe nomes, criamos uma plataforma que se
identificará com a identidade e personalidade, que perdurará durante a nossa
existência.
Aquilo que observamos e vivemos, ajuda na
criação do cenário que corresponde ao que naturalmente chamamos de ‘eu’. Nesta
fase ninguém nos explica o modo como tudo funciona. Ninguém nos diz que devemos
ser meros observadores, testemunhas de tudo o que se passa à nossa volta, muito
pelo contrário - somos envolvidos muitas das vezes como personagens principais.
Não existe alternativa a este processo
construtor. Um processo natural que nos permite crescer, evoluir e viver. Ao
longo da nossa existência, muitas foram as experiências associadas ao
comportamento humano na tentativa de criar o ‘humano ideal’. No entanto e após
todos estes anos, continuamos a acontecer
da mesma forma – usamos os nossos pais ou quem nos criou, como referência e
formamos com base nisso a nossa identidade. Um procedimento essencial e natural
ao prosseguimento da vida inteligente e consciente.
Já imaginou se tal não acontecesse?
Corríamos o risco de nascer humanos e crescer acreditando que seríamos árvores,
flores, rios ou qualquer outra coisa com que nos identificássemos.
Portanto as referências parentais são
necessárias e existirão sempre na formação do individuo. A mudança ou aquilo a
que chamamos evolução de consciência acontece nos meandros da formação entre
existências e parentescos. Refiro-me à informação genética dos antepassados
presentes no ADN.
Um bebé traz consigo informação genética
da árvore familiar e de todos os seus antepassados, como partes integrantes e
naturais da sua essência original. As referências que encontra na construção da
identidade, irão ajustar-se e ligar-se com toda a informação celular e daí,
dependendo de cada ligação, o ‘individuo’ surge, como uma obra exemplar e
única.
Aparentemente todos já sabemos de tudo
isto. No entanto, é necessário relembrar que, afinal de contas somos humanos e
que não faz sentido - por um lado perdermos a nossa existência na procura do
que e de quem somos, e por outro continuar a alimentá-la com questões que de
uma forma ou de outra podem contribuir para o que vemos hoje no mundo. Num
tempo em que ainda procuramos respostas e em que o mundo continua em guerras
estúpidas e desprovidas de inteligência original - onde centenas de inocentes
veem a sua experiência de vida interrompida, em prol de supostos ideais,
religiões e crenças que condicionam a essência primordial, é importante fazer
referência a questões como estas, que, de tão óbvias se tornaram esquecidas e
sem importância ao longo da nossa evolução como humanos.
Ser
humano
Humano deriva do latim ‘homem sábio’.
Homem sábio é o homem que usa o seu potencial mais puro e original. Potencial
mais puro é o acontecimento natural que vem de dentro, em que o homem não
questiona quem é, onde está e para onde vai, porque dentro de si já sabe a
resposta. Ser humano é portanto a expressão do mais verdadeiro, original e
puro, na condição natural e adaptada à existência inteligente.
Afinal de contas estamos aqui apenas para
ser o que somos. Nem mais nem menos – meros humanos! Nascemos, acedemos ao
banco de dados e formamos a nossa ideia sobre nós próprios e o mundo.
Experimentamo-nos e desenvolvemo-nos através da vivência real direta, com quem
está próximo e nos educa e com quem escolhemos ser. E em todo este processo
ainda temos a possibilidade de sentir, escolher, definir, decidir e seguir ou
não o que nos impõem como ideal. Maravilhoso não acha? Mas, algo parece não
estar certo – se tudo isto está claro na nossa mente, porque continuamos a
proceder como se o não soubéssemos? Como se o tivéssemos esquecido?!~
A engrenagem mecânica óbvia e natural da
vida, cria por si só uma espécie de ‘mistura’ de realidades e possibilidades,
que para os mais desatentos ou envolvidos pelo grande senhor ego passam completamente ao lado. O mesmo já não acontece ao
humano ‘desperto’, ao humano que acordou do sono profundo em que se encontrava
– esse tem a possibilidade de viver plenamente na posse da sua condição sábia e
natural – a esse sim, nós podemos chamar de ‘humano’.
Seja como for, o passo mais certo será
sempre aquele que for dado na direção do seu próprio centro, dentro de si,
consigo e para si. Aí sim, encontrará o humano puro e inteiro que sempre
procurou.
Sejamos pois humanos – só isso!
Joaquim
Caeiro
Psicoterapeuta da Alma & Life Coach
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